QUASE UMA ILHA
A atual 'punta' do centro histórico de Porto Alegre já foi uma península – do latim, pen:quase, insula:ilha – cercada de água que se unia ao resto da cidade apenas pela rua da Praia.
Na vida provinciana da virada do século XX, as edificações concentravam-se na subida da lomba até a atual Duque de Caxias e Porto Alegre esparramava-se costeando a grande baía do lago Guaíba, nessa época a cidade observou o aterramento da várzea localizada em frente a atual galeria Península, além da proliferação de loteamentos, avenidas e arranha-céus, o aparecimento de novas formas de habitação, locomoção, espaços comuns, serviços e múltiplas dificuldades. Sob a intensa urbanização, especulação e aprimoramento da construção civil, os engenheiros e arquitetos transformaram a paisagem urbana, através de elaborados projetos e planos para uma metrópole do futuro. Foi assim também que surgiu o edifício da galeria Península, num impulso privado de revitalização de uma aréa, de grande circulação e plácida proximidade com a orla. Nessa região, que já foi final da cidade, localizava-se um marco de vergonha e violência colonial, bem em frente a atual galeria Península, existia um pelourinho e uma forca, memória inapagável de um passado soterrado pelos impulsos desenvolvimentistas.
Nessa proposição afetiva dos artistas Andressa Cantergiani e Denis Rodriguez, a galeria Península transforma-se em zona de hospitalidade e recebe os artistas Adauany Zimovski Adrián Montenegro, Avatar Moraes, Gustavo Freitas, Leonardo Remor, a dupla Matheus Walter & Virginia Simone, Rommulo Vieira Conceição, Thiago Gonçalves e Túlio Pinto para práticas que guardam relação com a arquitetura, com o urbanismo, a geografia urbana, a paisagem e a arqueologia das cidades.
Uma espessa placa de vidro temperado pendendo do mezanino da galeria indica sua iminente colisão com a escultura grafite que emerge do piso. Essa situação de tensão real é resultado do diálogo da nova Nadir produzida especialmente para exposição do artista Túlio Pinto com a recém-restaurada escultura, de intensa geometria, desdobramento do projeto ' o solo criado", produzido por Avatar Moraes no final dos anos 70

